“Não temas o que hás de padecer” (Ap 2.10)
Todas as cartas às igrejas da Ásia terminam com promessas aos vencedores. É evidente que toda vitória precisa ser precedida por lutas e dificuldades. Não seria de se estranhar, portanto, que a igreja de Esmirna fosse atingida por tribulações, ataques humanos e demoníacos. Nenhum cristão quer passar por isso, mas Deus permite tais circunstâncias para o nosso crescimento e amadurecimento. Quem acredita que a conversão coloca um fim aos sofrimentos está se iludindo com falsas doutrinas. Temos, porém, a presença do Senhor conosco e sua orientação que nos conduz ao triunfo.
O propósito da tribulação
Paulo disse que a tribulação produz paciência, experiência e esperança (Rm 5.3-4). As situações difíceis que enfrentamos têm por objetivo nos ensinar muitas lições e desenvolver em nós virtudes e habilidades que, de outra forma, não teríamos. O atleta levanta pesos cada vez maiores a fim de desenvolver seus músculos, sua força e resistência. Da mesma forma, os desafios da vida podem nos tornar experientes, capazes e maduros, mas esses resultados não são alcançados por quem vive fugindo ou interrompendo seus exercícios.
Sabemos também que a tribulação revela quem é o falso cristão e quem é o verdadeiro, assim como, na parábola de Jesus, a tempestade testou os alicerces das duas casas (Mt.7).
Na igreja de Esmirna havia uma mistura, conforme percebemos no texto (Ap 2.8-11). A tribulação seria a prova. Dali sairiam os vencedores e os derrotados. Os falsos blasfemariam contra Deus, mas os verdadeiros permaneceriam fiéis. O Senhor já sabe quem é trigo e quem é joio. Entretanto, a prova é necessária para o autoconhecimento e para o testemunho diante do mundo. Ser fiel enquanto tudo vai bem não causa nenhum impacto nos ímpios. Todavia, se somos fiéis nas piores situações, então nosso testemunho se reveste de uma força impressionante. Tal evidência também fará calar o próprio Satanás que, conforme lemos no livro de Jó, vive nos observando e aguardando para assistir nossa infidelidade e nosso fracasso.
“Tereis uma tribulação de dez dias” (Ap 2.10)
Aquela igreja passaria por mais uma aflição com prazo determinado. Existe um aspecto positivo nesta medida temporal: a tribulação não é eterna. Tal afirmação beira o óbvio, mas, muitas vezes sentimos e agimos como se o nosso problema nunca fosse acabar. Deus está no controle. Ele já determinou um ponto final para todos os males que nos afligem.
Enquanto isso... espere
Esperar é uma palavra cada vez mais abominável para o homem moderno, cuja vida está repleta de recursos tecnológicos que oferecem resultados imediatos. Porém, a Bíblia nos ensina a ser como o homem do campo que, ainda na atualidade, depois de semear, precisa esperar a chuva, a produção da lavoura e o amadurecimento do grão.
Se Deus sempre nos atendesse imediatamente, resolvendo todos os nossos problemas, não precisaríamos de qualidades tais como a paciência, a perseverança e a longanimidade. Vemos, portanto, que, em muitas situações, precisaremos esperar. Aguarde o tempo certo, a melhor ocasião, sabendo que o Senhor tem a hora propícia para todos os propósitos. A precipitação tem causado inversões indevidas, produzindo conseqüências graves.
Esperar como?
Muitos estão esperando o livramento, o fim da tribulação, mas, enquanto isso, murmuram, reclamam, blasfemam, pecam. Esta não é a maneira correta de esperar. O Senhor disse: “Sê fiel até a morte...” (Ap 2.10.) Espere sendo fiel. Assim como Jó não blasfemou contra Deus, mas adorou, adoremos ao Senhor em todas as situações. Outro exemplo maravilhoso é o de José do Egito que, sendo escravo e prisioneiro, permaneceu fiel ao Senhor, esperando o seu livramento.
Palavras de esperança
A carta à igreja de Esmirna contém muitos elementos negativos: tribulação, prisão, tentação e morte. Porém, vemos também ali palavras do Senhor para confortar aqueles irmãos. Antes de tudo, é importante ressaltar que Jesus é o autor daquela carta, e ele diz: “Conheço as tuas obras, tribulação e pobreza”. Ele conhece; ele sabe de todas as coisas. Nada lhe passa despercebido. Em alguns momentos, podemos pensar que ele nos esqueceu, mas isto não é verdade. Ele nos contempla e conhece tudo o que passamos nesta vida. Em todas as cartas às igrejas da Ásia, encontramos este verbo: “conheço”. Jesus não apenas conhece, mas tem o controle da situação. Por isso ele diz: “Não temas” (Ap 2.10). Não permita que o medo domine seu coração, mas creia no Senhor.
“Dar-te-ei a coroa da vida”
A caminhada do cristão pode ser árdua em muitos momentos, mas temos a promessa gloriosa da vida eterna. Se formos fiéis e aprovados, seremos coroados pelo Senhor. Qualquer interferência do inimigo terá sido incidente de menor importância no meio do caminho. Jesus é o primeiro e o último (Ap 2.8). Ele se apresenta como “aquele que foi morto e reviveu” (Ap 2.8). Este é o modelo para a igreja. Ainda que sejamos mortos por causa do Evangelho, reviveremos para a vida eterna com o nosso Senhor Jesus Cristo. A carta à igreja de Esmirna não serve como incentivo a um “cristianismo” com enfoque terreno, imediatista e materialista, mas um cristianismo segundo Jesus Cristo, que nos leva a pensar nas coisas celestiais, em valores eternos, em vida eterna.
“Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas”
Observe que esta frase fala “às igrejas” e não apenas à igreja de Esmirna. Portanto, aquela carta é também para nós. Devemos meditar nela e viver os princípios ali contidos, uma vida de vencedores para a glória do Senhor Jesus.