quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

O EQUILÍBRIO TRABALHO-VIDA PESSOAL:responsabilidade individual e coletiva

Cuidar da saúde, ter uma boa alimentação e praticar exercícios físicos depende da disponibilidade de tempo, e isso é muitas vezes um luxo para poucos. Uma média de 12 horas diárias da vida dos trabalhadores é utilizada na preparação, no trajeto e no trabalho propriamente dito. Outras dez horas destinam-se ao descanso, à alimentação e ao asseio básico. Ao final, sobra menos de duas horas que são disputadas entre o relacionamento com a família, amigos e lazer, além das obrigações domésticas e as atividades de rotina diária. Dependendo das condições de vida dos trabalhadores e do tipo de trabalho que desenvolvem, concluiremos que muitos sequer dispõem das horas ‘livres’. Por exemplo, se morarem muito distante do trabalho, ou se estiverem estudando, certamente o tempo livre será ainda mais reduzido, ou então restrito apenas para o final de semana, isto se não houver obrigações de trabalho extra, ou de ordem doméstica e familiar.Para os privilegiados, como os executivos, o trabalho está atrelado intimamente ao poder de decisão, ao desafio e a competição permanente, e que apesar de ser estressante é também altamente satisfatório. É visível a dedicação excessiva de tempo para o cargo e para representar a organização, restando pouco tempo para que o profissional aproveite o convívio com a família e o parceiro. Menos tempo ainda é dedicado à saúde, seja através de uma boa alimentação, seja nas horas de sono, atividades físicas, ou nos check-ups periódicos. A cultura em grande parte explica a forma como os indivíduos se relacionam com o trabalho. Hofestede propôs um modelo para analisar as diferenças culturais utilizadas nos programas mentais de pensar e agir dos grupos. Neste modelo, foram apresentadas quatro dimensões de valores entre as culturas: Distância do poder (power distance); masculinidade-feminilidade; individualismo e coletivismo; e controle das incertezas (uncertainty avoidance). Apesar das críticas recebidas por Hofstede¹, seu trabalho apontou que culturas latino-americanas (exceto Argentina), asiática, a cultura espanhola e francesa apresentaram altos índices de distância do poder, comparados com as outras culturas. No caso específico da distância entre o poder, é evidente a aceitação dos privilégios dos gerentes por parte dos subordinados; das grandes desigualdades entre os salários e benefícios entre os gerentes e seus subordinados, e ainda o risco de perda de status e da identidade pessoal/profissional de um gerente. Nas culturas latinas o gerente é um executivo e tem a impressão de que o posto irá durar a eternidade. Nas culturas anglo-saxônicas o gerente valoriza outras formas de identidade, como por exemplo, ser um amante de golfe, estando claro para ele que o cargo de executivo é provisório.O brasileiro tem a fama de trabalhar muitas horas, e isto pode ser considerado um hábito cultural², justificado pelo empenho, envolvimento e competição, especialmente se ele estiver na posição de liderança. A hora extra pode representar uma sobrecarga, uma incompetência em administrar o tempo, revelar a importância do cargo, ou a onipotência do trabalhador revelando o status e o poder que o cargo confere.